USF Jardim Noroeste promove roda de conversa sobre violência contra a mulher na Aldeia Água Funda

Num espaço na Aldeia Água Funda, um círculo de mulheres se forma. Não há palcos nem microfones, apenas cadeiras dispostas de forma a permitir que todas se olhem nos olhos. O que acontece ali é um dos atos mais potentes e desafiadores da saúde pública contemporânea: uma roda de conversa sobre a violência contra a mulher. Conduzida por profissionais da Atenção Primária, a iniciativa representa um passo corajoso para além dos consultórios, mostrando um SUS que busca curar não apenas as feridas do corpo, mas também as chagas sociais que adoecem a alma de uma comunidade.

A cena, que poderia parecer um encontro informal, foi uma ação de saúde meticulosamente planejada. A equipe "Arara Vermelha", que atende o território, uniu forças com a Equipe Multiprofissional (EMulti) da Unidade de Saúde da Família (USF) Jardim Noroeste para abordar um tema que, por muito tempo, permaneceu velado pelo silêncio, pelo medo e por complexas barreiras culturais e sociais.

A psicóloga Bianca, a preceptora médica Thayne e a residente de Enfermagem Glaucineia não chegaram à aldeia como detentoras de um saber superior, mas como facilitadoras de um diálogo. A escolha do formato de "roda de conversa" é, em si, uma mensagem. Diferente de uma palestra vertical, o círculo promove a horizontalidade, onde o conhecimento técnico das profissionais de saúde se encontra com o saber da vivência, a experiência e a força das mulheres da comunidade. Foi criado ali um espaço seguro de escuta e acolhimento, um território de confiança onde a palavra pôde, finalmente, começar a circular.

Quando esse fenômeno se manifesta em comunidades indígenas, ele adquire camadas adicionais de complexidade. Mulheres indígenas enfrentam uma tripla vulnerabilidade: o machismo estrutural presente na sociedade em geral, o racismo e a discriminação, e os conflitos internos de suas comunidades, muitas vezes exacerbados por fatores como a desestruturação social causada por disputas de terra, o alcoolismo e a perda de referências culturais.

"Abordar esse tema em uma aldeia exige um preparo e uma sensibilidade imensos", analisa uma assistente social especializada em questões indígenas. "Não se pode chegar com um modelo urbano e impor a Lei Maria da Penha sem antes construir um diálogo que respeite as tradições, a organização social e os sistemas de justiça próprios daquela comunidade. O papel da equipe de saúde é, primeiramente, o de construir pontes de confiança".

A presença de uma equipe diversa na condução da atividade não foi coincidência. Ela reflete a estratégia do SUS de abordar problemas complexos com olhares múltiplos. A médica Thayne pôde orientar sobre os sinais físicos da violência e os direitos à saúde da mulher. A enfermeira Glaucineia, figura central no cuidado contínuo, reforçou os canais de acesso e a importância do acompanhamento na unidade de saúde. E a psicóloga Bianca, como membro da EMulti, ofereceu a escuta qualificada para as dores emocionais e ajudou a manejar a densidade do tema de forma segura e acolhedora.

As EMulti são arranjos organizacionais recentes no SUS, criadas justamente para dar suporte especializado às equipes de Saúde da Família, ampliando o escopo de suas ações. Elas são a prova de que a Atenção Primária reconhece que a saúde é influenciada por fatores psicológicos, sociais e ambientais, e que o cuidado precisa ser integral.

Contudo, nada disso seria possível sem o pilar fundamental da Estratégia Saúde da Família: o vínculo. A equipe Arara Vermelha não é uma estranha na Aldeia Água Funda. Seus profissionais conhecem as famílias pelo nome, acompanham as crianças, os idosos e as gestantes. É essa presença constante e essa relação de confiança, construída ao longo do tempo, que legitima a equipe a propor um diálogo sobre um assunto tão íntimo e doloroso.

Durante a roda de conversa, foram compartilhadas informações cruciais sobre os tipos de violência (física, psicológica, moral, sexual e patrimonial), sobre a rede de proteção à mulher e sobre os seus direitos. Mais do que uma aula expositiva, o encontro permitiu que as próprias mulheres compartilhassem suas percepções, seus medos e suas histórias, fortalecendo umas às outras.

A iniciativa reafirma o compromisso da Atenção Primária em atuar de forma intersetorial, ou seja, em conexão com outras áreas do poder público, como a assistência social, a segurança e o sistema de justiça. A roda de conversa é, muitas vezes, o primeiro passo para que uma mulher reconheça a situação de violência e busque ajuda, e a equipe de saúde funciona como uma porta de entrada segura para essa rede de apoio.

Ao promover esse diálogo, a equipe de saúde não está apenas tratando doenças. Está promovendo cidadania, fortalecendo a autonomia das mulheres e contribuindo para a construção de uma cultura de paz e respeito dentro do território. É a saúde atuando em sua dimensão mais ampla e transformadora.

O sol se pôs na Aldeia Água Funda, e o círculo se desfez. As mulheres voltaram para suas casas, mas algo havia mudado. O silêncio fora quebrado. A semente do diálogo, da conscientização e do empoderamento foi plantada. A ação da equipe Arara Vermelha e da EMulti é um testemunho poderoso de que o cuidado em saúde, quando exercido com humanidade, empatia e coragem, tem o poder de iniciar profundas transformações sociais, uma conversa de cada vez.

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